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22 março 2011

PENSATA

Sois Maçons?
Ir:.Milo Bazaga

Só me lembrava daquela forte dor no peito. Como viera eu parar aqui?
O ambiente me era familiar. Já estivera aqui, mas quando?
Caminhava sem rumo. Pessoas desconhecidas passavam por mim. Contudo, não tinha coragem da abordá-las. Mas espere que grupo seria aquele unido e de terno preto? Lógico! Não estariam indo e vindo de um enterro; hoje em dia é tão comum pessoas irem ao velório com roupa preta.
É claro, são Irmãos. Aproximei-me do grupo. Ao me verem chegar interromperam a conversa.
Discretamente executei o Sinal de Aprendiz, obtendo de imediato a resposta. Identifiquei-me. Perguntei ansioso o que estava acontecendo comigo. Respondera-me com muito cuidado e fraternalmente. Havia desencarnado. Fiquei assustado; e a minha família, os meus amigos, como estava?
- Estão bem não se preocupe; no devido tempo você os verá, responderam.
Ainda assustado, indaguei os motivos de suas vestes.
- Estamos nos encaminhando ao nosso Templo Maçônico - foi a resposta.
- Templo Maçônico, vocês tem um?
- Sim, claro. Por que não?
Senti-me mais à vontade, afinal de contas sou um Grande Inspetor Geral da Ordem e com certeza receberei as honrar devidas ao meu elevado Grau. Pedi para acompanhá-los, no que fui atendido.
Ao fim da pequena caminhada, divisei o templo. Confesso que fiquei abismado. Sua imponência era enorme. As Colunas do pórtico, majestosas. Nunca vira nada igual. Imaginei como deveria ser seu interior e como me sentiria tomando parte nos trabalhos. Caminhamos em silêncio. Ao chegar ao salão de entrada verifiquei grupo de Irmãos conversando animadamente, porém em tom respeitoso.
O que parecia o Líder do grupo que acompanhava chamou a um Irmão que estava adiante.
- Irmão Experto: Acompanhai o Irmão recém-chegado e com ele aguarde.
Não entendi bem. Afinal, tendo mostrado meus documentos, esperava, no mínimo, uma recepção mais calorosa. Talvez estejam preparando uma surpresa à minha entrada; para o grau 33 não se poderia esperar nada diferente.
Verifiquei que os Irmãos formavam o corteja para a entrada ao Templo. À distância, não pude ouvir o que diziam, contudo, uma luminosidade esplendorosa cercou a todos. Adentraram silenciosamente no Templo.
Comigo ficou o Irmão Experto. De tanta emoção não conseguia dizer nada. O Tempo passou... não pude medir quanto. A porta do Templo se entreabriu e o Irmão M.’.C.’. Encaminhando-se a mim comunicou que seria recebido. Ajeitei o paletó, estufei o peito, verifiquei se minhas comendas não estavam desleixadas e caminhei com ele. Tremia um pouco, mas quem não o faria em tal circunstância?
Respirei fundo e adentrei ritualisticamente ao Templo. Estranho... Esperava encontrar luxuosidade esplendorosa, muito ouro e riquezas. Verifiquei rapidamente, no entanto, uma simplicidade muito grande. Uma luz brilhante, vinda não sabe de onde iluminava o ambiente. Cumprimentei o Venerável Mestre e os Vigilantes na forma do ritual. Ninguém se levantou à minha entrada. Mantinham-se calados e respeitosos. Não sabia o que fazer… Aguardava ordens…., e elas vinham na voz firme do Venerável:
- S.’.M.’.?
Reconhecendo a necessidade do trolhamento em tais circunstâncias, aceitei respondê-lo:
- M.’. I.’.C.’.T.’.M.’.R.’.
Aguardei seguro, a pergunta seguinte. Em seu lugar o V.’.M.’. dirigindo-se aos presentes, perguntou?
- Os Irmãos aqui presentes, o reconhecem como Maçom?
Assustei-me. O que era isso? Por que tal pergunta? O silêncio foi total. E dirigindo-se a mim, o Venerável emendou:
- Mas caro Irmão visitante, os Irmãos aqui presentes não o reconheceram como Maçom.
- Como não! Não vêem minhas insígnias? Não verificaram meus documentos e comendas?
Retrucou o Venerável.
- Sim caro Irmão. Contudo não basta ter ingressado na Ordem, ter diplomas, insígnias e comendas. Para ser Maçom é preciso antes de tudo, ter construído o seu Templo Interior, mas verificamos que tal não ocorreu com o Irmão. Observamos ainda que, apesar de ter tido todas as oportunidades de estudo e de ter o maior dos Graus, não absorveu seus ensinamentos. Sua passagem pela Arte Real foi efêmera.
- Como efêmera? Vocês que tudo sabem são observaram minhas atitudes fraternas?
Fui interrompido.
- Irmãos vejam então sua defesa.
Automaticamente desenhou-se na parede algo parecido com uma tela imensa de televisão e na imagem reconheci-me junto a um grupo de irmãos tecendo comentários desrespeitosos contra a Administração de minha Loja. Era verdade. Envergonhei-me. Tentei justificar, mas não encontrava argumentos.
Lembrei-me então de minhas ações beneficentes, indaguei-os sobre tal. Mudando a imagem como se trocassem de canal, vi-me colocando a mão vazia no Tronco de Beneficência. Era fato, costumeiramente, o fazia por achar que o óbolo não seria bem usado. Por não ter o que argumentar, calei-me e lágrimas de remorso brotaram-me aos olhos. Decidi a retirar-me cabisbaixo e estanquei ao ouvir a voz autoritária e ao mesmo tempo fraterna do Venerável:
- Meu Irmão. Reconhecemos suas falhas, quando o orbe terrestre e na Maçonaria. Contudo, reconhecemos também, que o Irmão foi iniciado em nossos Augustos Mistérios. Prometemos em suas iniciações protege-lo e o faremos. O Irmão terá a oportunidade de consertar seus erros, afinal todos nós aqui presentes já cometemos um dia. Descanse neste Plano o tempo necessário e, ao voltar à matéria para novas experiências, nós o encaminharemos novamente para a Ordem Maçônica, sua nova caminhada com certeza será mais promissora e útil.
Saí decepcionado, mas estranhamente aliviado. Aquelas palavras parecem ter me tirado um grande peso. Com certeza ali eu desbastara um pedaço de minha pedra Bruta.
Acordei, sobressaltado e suando. Meu coração disparado. Levantei-me assustado, mas com certa alegria no peito. Havia sonhado? Dirigi-me ao guarda-roupa. Meu terno ali estava.
Instintivamente retirei do meu paletó as medalhas, insígnias e comendas, guardando-as numa caixa.
Ainda emocionado e com os olhos molhados de lágrimas dirigi-me à minha mesa, com as mãos trêmulas e cheias de uma alegria envolvente retirei o Ritual de Aprendiz – Maçom.
No dia seguinte ao dirigir-me à minha Loja, somente levei o Avental de Aprendiz e humildemente sentei-me ao fundo da Coluna do Norte.

Um comentário:

  1. Aldeniz A. de Azevedo29 de março de 2011 às 11:09

    Parabéns ao irmão Milo Bazaga e ao blog do goiern pela publicação dessa matéria. É a única atitude que me entristece ver em um irmão maçon. A VAIDADE, e infelizmente existe.

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