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11 agosto 2015

A Cadeira de Salomão

Ir\ Rui Bandeira

Denomina-se de Cadeira de Salomão a cadeira onde toma assento o Venerável Mestre da Loja quando a dirige em sessão ritual. Em si, não tem nada de especial. É uma peça de mobiliário como outra qualquer. Porventura (mas não necessariamente) um pouco mais elaborada, com apoio de braços, com maior riqueza na decoração, com mais cuidado nos acabamentos.

Como quase tudo em maçonaria, a Cadeira de Salomão tem um valor essencialmente simbólico. Integra, conjuntamente, com o malhete de Venerável e a Espada Flamejante, o conjunto de artefatos que simbolizam o Poder numa Loja Maçônica. Ninguém, senão o Venerável Mestre usa o Malhete respetivo. Ninguém, senão ele utiliza a Espada Flamejante. Só ele se senta na Cadeira de Salomão.

 A Cadeira de Salomão destina-se, tal como os outros dois artefatos, a ser exclusivamente utilizada pelo detentor do Poder na Loja. Assim sendo, importante e significativo é o nome que lhe é atribuído. Não lhe chamam a Cadeira de César ou o Trono de Alexandre. Sendo um atributo do Poder, não se distingue pelo Poder. Antes se lhe atribui o nome do personagem que personifica a sabedoria, a prudência, a Justiça aplicada.

Ao fazê-lo, indica que, em Maçonaria, o Poder, sempre transitório, só é efetivo e eficaz se exercido com a sabedoria e a prudência que se atribui ao rei bíblico. Quem se senta naquela cadeira dispõe, no momento, do poder de dirigir, de decidir, de escolher o que e como se fará na Loja. Mas, em Maçonaria, se é regra não se contrariar a decisão do Venerável Mestre, porque tal compromisso se assumiu repetidamente, também é regra que, sendo-se livre, não se é nunca obrigado a fazer aquilo com que se não concorda.

O Poder do Venerável Mestre é indisputado. Mas, para ser seguido, tem de merecer a concordância daqueles a quem é dirigido. E esta só se obtém se as decisões tomadas forem justas, ponderadas e prudentes. O poder em Maçonaria vale o valor intrínseco de cada decisão. Nem mais, nem menos. A Cadeira de Salomão é o lugar destinado ao exercício do poder em Loja com sabedoria e prudência. O Venerável Mestre deve saber sempre que não é dono de qualquer poder, que só detém (e transitoriamente) o poder que os nossos Irmãos delegaram, confiando no seu bom exercício.

Não está escrito em nenhum lugar, não há nenhuma razão aparente para que assim tenha de ser. Mas quase todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sentem que esta os transformou. Para melhor. Não porque esta Cadeira tenha algo de especial ou qualquer mágico poder. Porque a responsabilidade do ofício, o receber-se a confiança dos nossos Irmãos para os dirigirmos, para tomar as decisões que considerarmos melhores, ouvindo conselhos de uns ou em solitária assunção do ónus, transforma quem assumiu essa responsabilidade.

A confiança que no Venerável Mestre é depositada pelos demais é por este paga com o máximo de responsabilidade. Muito depressa se aprende que o Poder nada vale comparado com o dever que o acompanha. Que aquele só tem sentido, só é útil e meritório se for tributário deste. A primeira vez que um Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão não lhe permite distinguir se ela é confortável ou não. Ele vê todos os rostos virados para si, aguardando a sua palavra, correspondendo a ela, se ela for adequada, calmamente aguardando por correção, se e quando a palavra escolhida não for adequada.

A primeira vez que um Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão o faz instantaneamente compreender que está ali sentado... Sem rede! E depois faz o seu trabalho. E normalmente faz o seu trabalho como deve ser feito, como viu outros antes dele fazê-lo e como muitos outros depois dele o farão. E então compreende que não precisa de rede para nada. Que o interesse é precisamente não ter rede... Quem se senta na Cadeira de Salomão aprende a fazer a tarefa mais complicada que existe: dirigir iguais!

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