A Maçonaria, como escola de Filosofia, utiliza-se de símbolos e alegorias cujos significados são os ensinamentos íntimos da Ordem, para a transmissão de suas ideias e valores. A cada grau, novos símbolos são desvendados pelo Maçom, e deles são realizadas interpretações dos seus significados moral, físico e metafísico.
No grau de Aprendiz Maçom, no início da caminhada dentro dos mistérios da Ordem, são apresentadas as três ferramentas utilizadas pelo Aprendiz: o maço, o cinzel e a régua de 24 polegadas.
Dentro da Loja, as ferramentas são associadas às colunas que a sustentam: a Sabedoria, a Força e a Beleza, personalizadas, respectivamente, nas pessoas do Venerável Mestre, 1º Vigilante e 2º Vigilante.
A régua, por excelência, é um instrumento de medida. Através dela é possível obter a informação sobre a longitude de uma dimensão espacial. Encontrada desde tempos imemoriais, especula-se que a régua possa ter surgido com o período Neolítico da Humanidade, onde a medida da terra tornou-se necessária para o planejamento das colheitas dos primeiros povos sedentários.
A medida associada à régua é a longitude ou comprimento. Na ciência da metrologia a longitude é uma das sete medidas fundamentais. São elas: longitude, massa, tempo, temperatura, corrente elétrica, intensidade luminosa e quantidade de matéria. As demais formas de compreensão das quantidades do universo derivam destas.
Dada a estreita relação entre a medida de longitude e demais grandezas, é possível afirmar que a régua é um instrumento que pode ser utilizado para compreender o Universo. Na Teoria Especial da Relatividade de Albert Einstein, de 1905, postulou-se que tempo e longitude são grandezas dependentes entre si, proporcionais à velocidade dos sistemas de referência. Assim, a longitude (espaço) e tempo tornam-se variáveis que, hora ou outra, podem ser entendidas como intercambiáveis, a depender de como se expressa matematicamente o fenômeno a ser estudado. A compreensão desta faceta do Universo levou aos subsequentes avanços no estudo da física nuclear, quântica e cosmologia.
De fato, ainda referindo-se à ciência da metrologia, a 17ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, em 1983, definiu o metro, unidade de longitude, como o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de segundo.
Assim, na ciência moderna, em reconhecimento às implicações da Teoria Especial da Relatividade, entende-se a longitude e o tempo como grandezas interdependentes. Essa observação é de especial importância quanto se traslada o significado físico da régua para o entendimento da simbologia maçônica.
Na arte do Desenho, a régua não é instrumento de traçado, ao contrário do que sua forma reta e rígida sugere. Esta função, de traçar linhas retas, é designada ao esquadro. À régua é legado o trabalho tanto de obter, como de impor medidas aos desenhos. Neste último viés, a régua é o símbolo do planejamento da construção. Nessas atividades, a régua toma uma forma dual, passiva e ativa, respectivamente, da tomada e imposição da medida. Na simbologia maçônica, a régua é tida como o instrumento necessário ao planejamento do desbaste da pedra bruta, onde as dimensões perfeitas serão impressas.
O simbolismo do número 24 - O número 24, associado à régua, é primeiramente referido às horas do dia. Em número de 24, divididas em três períodos iguais de oito horas, sugere que o homem deve empregar com equilíbrio seu dia em descanso, trabalho, e a serviço de Deus e um irmão necessitado.
Com relação ao número 24, Daniel Béresniak lembra que ele é resultado do produto dos quatro primeiros números naturais, ou 24 = 4! = 4 × 3 × 2 × 1, sendo assim, igualmente divisível por estes, e capaz de produzir medidas proporcionais a estes.
Algumas referências são encontradas quando estudadas comparativamente às religiões:
São 24 os livros que compreendem a Tanakh, o cânone judeu e o Velho Testamento cristão.
24 também é o número de Tirthankharas, seres humanos que, segundo a religião jainista, interromperam seu ciclo de reencarnações através da iluminação ou obtenção do nirvana, e são inspiração e fonte de sabedoria para os seguidores da religião jainista.
No hinduísmo, são 24 os raios da Roda do Dharma. Os raios representam 24 virtudes, assim como lembra as 24 horas do dia e da constância da movimentação do tempo. A Roda do Dharma representa também uma roda de fiar, símbolo dos movimentos para a independência da Índia e posteriormente adotado como um dos símbolos deste país.
É possível, então, correlacionar o número 24 às virtudes no jainismo e hinduísmo, bem como na tradição judaico-cristã, na medida em que referencia o cânone do primeiro e o Velho Testamento cristão.
Conclusões - A régua de 24 polegadas é, junto com o maço e o cinzel, uma das ferramentas do Aprendiz Maçom. Representa a sabedoria, com a qual o Aprendiz deve planificar e construir seu templo interior. É instrumento de medida por excelência, onde as proporções das dimensões lineares podem ser conhecidas.
Da mesma forma, é dividida em 24 porções iguais, que lembram as horas do dia e da forma sábia que estas devem ser empregadas. O número 24, por si só, enquanto lembra a divisão horária do dia, é o produto dos quatro primeiros números naturais. Além da divisão do dia, podem-se traçar referências a virtudes encontradas em outras religiões, com significâncias próprias, que remetem ao próprio simbolismo de retidão da régua.
A lição que o Aprendiz Maçom deve obter da régua de 24 polegadas é da proporcionalidade e retidão, expressos em sabedoria, no planejamento e mensuração do seu tempo.
Bibliografia
PIKE,
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Tirthankaras. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Tirthankaras - Acessado em 10/07/2014.
Trabalho perfeito para compreensão de quem busca resultado, odeio aqueles trabalhos que trazem mil anos de bistrôs para no final, esclarecer em meia dúzia de linhas o que agente busca.
ResponderExcluirPara bens aos idealizadora da resposta .