Ticiano Duarte- escritor
Peço permissão aos leitores para tratar, hoje, de um assunto que me toca profunda e sensivelmente, que é da minha relação com a maçonaria. Coisa que faço há quase 45 anos – tempo que completarei em dezembro próximo. E faço (os que me conhecem, sabem) com amor e devoção, às vezes, com sacrifício, das horas de lazer, da convivência com a família, com meus entes queridos.
Daí porque, já pelo tempo, sem cobrar da Instituição o esforço, porque não dizer à abnegação, à frente dos postos que me foram confiados pelos irmãos, como Venerável Mestre, presidente da Assembléia Maçônica, Grão-Mestre, presidente da Confederação Maçônica do Brasil (COMAB), isto no simbolismo; de Grande Ministro de Estado, Lugar Tenente Comendador, Soberano Grande Comendador, do Supremo Conselho, dos Graus Superiores; creio que tenho algum direito de opinar e dizer qualquer coisa sobre minha Potência, sua legalidade, representação, história, dignidade, acervo, atualidade e raízes históricas.
Nasci maçonicamente no Grande Oriente do Brasil, GOB, nos idos de 1969. Em 1973, acompanhei, sob a bandeira de Armando de Lima Fagundes e outros queridos irmãos, a cisão que deu origem ao Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira e conseqüentemente à Confederação Maçônica do Brasil, COMAB, que tive a honra de presidir, de 2005 a 2006. Aprendi nos primeiros passos uma lição importante, segundo a qual, em maçonaria os Landmarques não podem ser tomados, nem argüidos, em termos absolutos, dogmáticos ou imutáveis, mas dentro da essencialidade maçônica, cujo escopo é a evolução, o progresso e o desenvolvimento, neste das pessoas, destas aos institutos sociais, destes às instituições e destas à Sociedade.
A COMAB foi um grito de independência ao poder absolutista e discricionário do Grande Oriente do Brasil, GOB, como bem definiu Otacílio Schuler Sobrinho, no seu livro – “Uma Luz na História”, ao dizer que havia uma espécie de sistema feudal da referida Potência, indagando como se operava o período de transição do poder, ali. E ainda mais perguntava – deve ser qualificado como absoluto resultante na produção e reprodução de separação e cisão? O grande maçonólogo catarinense responde que sim: “A superação do sistema feudal dominante desde as décadas antecedentes pressupõe necessária a via revolucionária - mudar o modelo. O modelo político endógeno, espelhado no exógeno, foi a gota d’água que alterou a forma e o valor de exercer o poder maçônico em vigor e adotado pelo grupo que se julgou maioria, com legados independentes e contínuos, enquanto que a evolução mostrava que a vontade popular – povo maçônico – não mais aceitava o absolutismo e desejava banhar-se nas águas límpidas, transparentes e calmas da democracia, num Estado Federado, autônomo, independente e soberano”.
Por incrível que pareça, nos dias de hoje, passados 41 anos, queira se repetir a truculência e o arbítrio, através de gestos e atos invejosos que não perdoam o crescimento, regularidade, vitalidade, respeitabilidade e reconhecimento internacional da COMAB, uma minoria no poder, mesmo contra a vontade das bases, como está ocorrendo em muitos estados, inclusive no Rio Grande do Norte, pelo gesto corajoso do Grão-Mestre Miguel Rogério.
A COMAB é independente e altiva. Sua história é a repulsa à indignidade. Quando estava em jogo a honra da maçonaria brasileira, maçons ilustres e dignos juntaram-se numa só bandeira, que é a da democracia – sustentada no cumprimento de leis ordenadas ao bem comum, não se submetendo a desejos manifestos e caprichos interpretativos de pessoas investidas temporariamente no poder.
Seria oportuno nesta hora, fosse lembrada a lição de Santo Agostinho: “Os que não querem ser vencidos pela verdade, são vencidos pelo erro”.
Publicado no jornal Tribuna do Norte, edição de 10/09/2014
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