O Maçom Duque de Caxias
Ir Marcos Cabral (*)
Prefiro cometer uma injustiça a tolerar uma desordem - Goethe
Inexistem, até os dias de hoje, provas documentais sobre a loja e a data onde o profano Luis Alves de Lima e Silva – O Duque de Caxias, teria sido iniciado. Embora não haja documentação "oficial" sobre o ingresso de CAXIAS na Maçonaria e sobre sua atividade maçônica antes de 1847, pelo menos até agora não apareceu, é isto uma circunstância perfeitamente explicável, pois, sendo ele católico praticante, posteriormente muita "gente boa" tinha todo o interesse em fazer desaparecer qualquer vestígio de ter ele pertencido a nossa Ordem.
Kurt Prober supõe que Caxias deve ter sido iniciado numa Loja do GOP – Grande Oriente do Passeio, ou numa das três lojas do Supremo Conselho do Conde de Lages, antes da fusão de 1842, na Corte, entre 30 de junho de 1841 e 17 de maio de 1842, quando ainda era brigadeiro e Barão. "A iniciação com mais probabilidade se teria realizado na Loja S. PEDRO DE ALCANTARA, em 1842, sob o malhete do Dr. Thomaz José Pinto de Serqueira. Poderiam ter sido os seus padrinhos: O próprio Conde de Lages - João Vieira de Carvalho - que, sendo Ministro da Guerra, em 12 de dezembro de 1839 escolhera o então Coronel LUIZ ALVES DE LIMA E SILVA para pacificar a Balaiada no Maranhão; ou então ingressara pela mão de seu amigo dileto José Clemente Pereira, o Irmão Camarão, Ministro da Guerra.
Castellani, por sua vez, ao pinçar alguns traços biográficos de Caxias, afirma que ele "foi iniciado numa das Lojas do Grande Oriente do Passeio, integrando-se ao Grande Oriente do Brasil, a partir da fusão deste com o Supremo Conselho, em 1852". Tudo leva a crer que o pai do Irmão Caxias - Francisco de Lima e Silva - não deve ter sido maçom, contudo, o seu tio - José Joaquim de Lima e Silva, Visconde de Magé - era Maçom de destaque e ativo ali pelos idos de 1831 a 1834. Muitos escritores, notadamente maçônicos, confundiram o Irmão Caxias com o seu tio.
Outro grande mito que precisa ser desfeito é o de ter sido Caxias Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil. Segundo Castellani "ao contrário do que afirmam alguns historiógrafos, Caxias NÃO foi Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, mas, sim, da Obediência oriunda da dissidência do Passeio, junto com o Supremo Conselho, a partir de 1847. Ele receberia, sim, depois de sua filiação ao Grande Oriente do Brasil, o título de GRÃO-MESTRE DE HONRA DA OBEDIÊNCIA, o qual é simplesmente honorífico, não envolvendo exercício do cargo".
A comprovação do título honorífico é apresentada por Kurt Prober, pois, "quanto ao fato de CAXIAS ter recebido o título de Gr\M\Honorário do GOB, não há dúvida, pois o seu nome consta como tal no "Quadro Geral do GOB do Lavradio", publicado em 1871, pg.8, e numa relação publicada no Boletim de 1874, pg. 354; entretanto, querer insinuar que tenha recebido tal honraria em retribuição pela entrega do seu Supremo Conselho ao GOB é inadmissível, e não se coadunaria com o seu caráter. Também está errada a notícia dada no Bol. de 1956, pg. 56, onde se diz "que teria recebido o título em 1872", pois no ano anterior já o possuía".
Em 1869, Caxias, já como Duque, foi nomeado representante do Supremo Conselho da Inglaterra no Grande Oriente do Brasil. Exerceu este cargo até a sua morte em 1880. Antecipando-se ao natural fato, ditou e firmou seu Testamento:
"Em nome de Deus, Amém. Eu, LUIZ ALVES DE LIMA E SILVA, Duque de Caxias, achando-me com saúde e em meu perfeito juízo, ordeno o meu testamento, da maneira seguinte:"...
"... quero que meu enterro seja feito sem pompa alguma, e só como irmão da Cruz dos Militares, no grau que ali tenho ...".
"...Não desejo, mesmo, que façam convites para o meu enterro, porque os meus amigos, que me quiserem fazer este favor, não precisam desta formalidade e muito menos consintam os meus filhos que seja embalsamado."
"Declaro que deixo ao meu criado Luiz Alves quatrocentos mil réis e toda a roupa de meu uso. Deixo ao meu amigo e companheiro de trabalho, João de Souza da Fonseca Costa, como sinal de lembrança, todas as minhas armas, inclusive a espada com que comandei seis vezes, em campanha, e o cavalo de minha montaria, arreado com os arreios melhores que tiver na ocasião de minha morte.".
"...Logo que eu falecer, deve o meu testamenteiro fazer saber ao Quartel-General, e ao Ministro da Guerra, que dispenso as honras fúnebres que me pertencem como marechal do Exército...".
"... e que só desejo que me mandem seis soldados, escolhidos dos mais antigos, e de melhor conduta, dos corpos da guarnição, para pegar nas argolas do meu caixão, a cada um dos quais o meu testamenteiro, no fim do enterro, dará trinta mil réis de gratificação."
"...Deixo à minha irmã, a Baronesa de Suruhy, as minhas condecorações de brilhantes da Ordem de Pedro I, como sinal de lembrança e a meu irmão, o visconde de Tocantins, um candeeiro de prata, que herdei de meu pai. Deixo o meu relógio de ouro com a competente corrente ao capitão Salustiano de Barros Albuquerque, também como lembrança pela lealdade com que tem me servido Deixo à minha afilhada Anna Eulália de Noronha, casada com o Capitão Noronha, doze contos de réis. Tudo o que mais possuo será repartido com as minhas duas filhas Anna e Luiza... "Em nome de Deus, Amém."
Em 17 de setembro de 1875, D. Pedro II, contrafeito, assina o Decreto nº5993 que anistiava os bispos de Olinda/Recife e de Belém do Pará no momentoso assunto da Questão Religiosa. A anistia dos bispos, dentro do espírito da visão pacificadora do Ir\ Caxias, que presidia o Conselho de Ministros do Império, alimentou, ainda mais, sua impopularidade entre adeptos da Arte Real. Além disso, o Ir\ Caxias gerou mais impopularidade ao defender publicamente a manutenção da junção do Estado com a Igreja, tese radicalmente contrária à posição da Maçonaria da época.
O decreto de anistia causou tal celeuma que o próprio Visconde do Rio Branco, ex-Grão-Mestre do GOB, preferiu deixar o Conselho de Ministros a ter de assiná-lo. Kurt Prober, chegou a afirmar que "D.Pedro não se enganara com o clero..., mas tinha encontrado o "bode" expiatório para a situação vexatória, que ele mesmo criara, e que por cima lhe agüentaria o galho enquanto por mais de dois anos iria passear na Europa". Kurt põe mais lenha na fogueira ao dizer que o Ir\ Caxias, também, recebeu "logo em seguida - em meados de 1876 - a Retribuição do Clero, ao ser Expulso, por ser Maçom, da Irmandade da Cruz dos Militares do Rio, confraria da qual tinha sido Provedor em 1871/72 e ainda era Membro da Mesa Administrativa em 1876".
Kurt termina o seu artigo relatando que a Igreja resolveu "esquecer" que o Ir\Caxias tinha sido Maçom, pois, "ao serem trasladados o restos mortais de CAXIAS, já PATRONO DO EXÉRCITO, do Cemitério de Catumbi no Rio, para o Panteão Militar, em frente ao então Quartel General do Exército no Rio de Janeiro, foi justamente na Igreja da Irmandade da Cruz dos Militares, na antiga Rua Direita, que o expulsara como Maçom Pestilento, realizada a vigília cívica da eça armada, das 12 horas do dia 24 até 8 horas de 30 de agosto de 1949.
Participaram da trasladação dos ossos do MAÇOM CAXIAS nada menos do que 18 bispos e arcebispos de todos os rincões brasileiros, sendo a missa rezada por Dom Jorge Marcos de Oliveira, na presença do Cardeal D. Jaime de Barros Câmara.
A Maçonaria não esteve representada oficialmente no ato, mas salvou tal ausência pelo menos, a presença do Presidente da Comissão de Trasladação, o Maçom Dr. Nereu Ramos, então Vice-Presidente da República, e o Maçom Capitão-Médico Tito Ascoli de Oliva Maia, como assinante da ata da exumação em 23 de agosto de 1949".
Todavia, nenhum brasileiro pode desconhecer seus heróicos feitos, sua conduta como Militar a serviço do Brasil de então, como Ministro de Estado do Império, permaneceu sereno e compromissado com seu ideal, com sua lealdade, com seu caráter de homem de Honra.
Concluo com o pensamento de ABRAHAM LINCOLN: “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas, se quiser por a prova o Caráter de um Homem, dê-lhe Poder”.
Marcos Cabral é o DEÃO da ESAEM (Escola Superior de Altos Estudos Maçônicos) do GOIPE
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