Representação gráfica da Proclamação da República |
Waldir Ferraz de Camargo
A Maçonaria esteve presente em todos os principais acontecimentos históricos do Brasil e que culminaram no país que hoje vivemos. Diferente não poderia ser a sua participação na Proclamação da República.
“A partir de hoje, 15 de Novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, podendo se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas as consequências da liberdade.” Assim iniciava o editorial da Gazeta da Tarde, anunciando o levante político-militar que instaurou a forma republicana presidencialista de governo no Brasil, pondo fim à soberania do imperador D. Pedro II.
Esse fato histórico, talvez o mais importante do país, teve como líderes e idealizadores maçons ilustres que hoje figuram nos livros de História, tais como Marechal Deodoro da Fonseca, Benjamim Constant, Rui Barbosa, Silva Jardim, Campos Sales, Quintino Bocaiuva, Prudente de Morais, Aristides Lobo e muitos outros.
A idéia republicana já era antiga no Brasil. Esteve presente na Guerra dos Mascates (1710), na Inconfidência Mineira (1789), na Revolução Pernambucana (1817), na Confederação do Equador (1824) e na Revolução Farroupilha (1835). O país clamava pela República e sua proclamação era uma questão de tempo.
O Império estava desgastado e vagarosamente ruía, principalmente após a Guerra do Paraguai (1870) quando o Brasil, mesmo sendo vitorioso, não soube valorizar o Exército, seu principal agente, causando grande descontentamento na classe militar. A Igreja, por sua vez, queria a liberdade, pois se encontrava submetida ao padroado imperial.
Outro fato importante que fez com o Império perdesse sua sustentação foram as leis antiescravagistas: a do Ventre Livre (1871), Sexagenários (1885) e Áurea (1888), fervorosamente defendidas nas Lojas Maçônicas. Entrelaçando esses e outros fatos, a Maçonaria - através das Lojas Vigilância de São Borja (RS), Independência e Regeneração (ambas de Campinas) - aprovou um manifesto contrário ao advento de um terceiro reinado e o enviou a todas as demais lojas do Brasil, para que tomassem conhecimento e apoiassem essa causa. Mais uma vez a Maçonaria estava à frente liderando um movimento democrático.
Em 10 de novembro, na casa de Benjamim Constant, diversos maçons se reuniram, entre eles Francisco Glicério e Campos Sales, decidindo marcar para o dia 20 a tomada do poder, tendo à frente o militar de mais alta patente, o marechal Deodoro da Fonseca, que seria o primeiro presidente da República. A data teve de ser antecipada em face de um boato ardilosamente arquitetado de que o governo havia mandado prender Deodoro da Fonseca. Realmente era um boato: a prisão não se concretizou.
Assim, na manhã do dia 15, Deodoro, que estava doente em sua casa, atravessou o Campo de Santana e do outro lado do parque conclamou os demais revolucionários ali aquartelados. Ofereceram-lhe um cavalo, ele o montou e, segundo testemunhas, tirou o chapéu e gritou: “Viva a República!”. Depois apeou, atravessou o parque e voltou para sua residência. Na tarde do mesmo dia o ato foi confirmado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e oficialmente proclamada a República do Brasil.
Justiça se faça ao então imperador D. Pedro II, um homem culto, ponderado, também maçom, que, contrariando a opinião pública, não lutou pelo trono, pois não queria ver derramamento de sangue, reconhecendo que para o Brasil este seria seu novo e melhor destino. Numa atmosfera que se desenhou entre o pasmo e o temor dos monarquistas e admiração dos sensatos, passados apenas dois dias o imperador partiu com toda sua família para a Europa, levando com ele meio século de história do Brasil Imperial, deixando renovadas as esperanças de se construir uma nova nação, com bases nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, cercada pela bonança esperançosa da paz.
Licenciado em história, funcionário público estadual e membro da Loja Maçônica “Deus, Pátria e Família”, de Bauru-SP
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