Julian Rees
Os Maçons pertencem a uma
organização que deve ser dedicada ao autoconhecimento, à natureza do ser, amor,
tolerância, à fraternidade entre os homens, à liberdade de consciência e, sim,
talvez a uma conexão com a Divindade no meio.
Mas nós ficamos atolados
em sistemas que parecem uma hierarquia, obsessão com promoção a graus
superiores, discussões sobre precedência, noções confusas sobre Deus, os
méritos relativos deste ou daquele local para o jantar e um papaguear sem sentido
sobre o que é, em si mesmo, um ritual significativo.
Talvez, o pior de tudo é
nós nos acharmos uma organização caritativa, quando o que nós somos é,
primariamente, uma organização com todos os atributos que eu mencionei, em
adição, alguns filantrópicos.
Na noite em que eu fui
iniciado, um dos Mestres Instalados apertou-me a mão dizendo: “Bem, rapaz, de
agora em diante você não necessita de outros passatempos!” Eu, no mesmo momento,
senti isso ofensivo, percebendo (corretamente) que a Maçonaria é uma profissão
ou uma vocação, não um passatempo.
Minha impressão, formada
tão precocemente, foi, logo em seguida, reforçada por visitas às lojas na
Alemanha, onde eles levam essas coisas muito mais a sério do que nós, na
Inglaterra.
Onde está a
espiritualidade, a tentativa de auto melhoramento, as incursões no simbolismo,
as incursões, por assim dizer, no inexplicado, tanto externa como internamente?
Se nós examinarmos onde a Maçonaria está, na Inglaterra, neste momento, para
dizer o mínimo, nós estamos engajados em iniciar cada vez mais homens na
confraria para conferir-lhes o segundo e o terceiro graus, de modo que eles
possam, por sua vez, ser designados como oficiais, numa Loja, no devido tempo
para tornarem-se Veneráveis Mestres. Com que finalidade?
A finalidade,
infelizmente, é tal que eles possam iniciar mais homens, de modo que esses
homens possam fazer o mesmo a outros homens, infinitamente. Parece que nós
fazemos isso com a justificativa de “um avanço diário no conhecimento
maçônico”.
Seria muito perguntar que
avanço? O que aconteceu com eles? Como a Maçonaria moldou suas vidas, afinal?
Cresceram eles e, se afirmativo, de que maneira? O que aprenderam eles? Estas
não são perguntas teóricas, porque, para alguns desses irmãos, algo aconteceu:
a Maçonaria modificou suas vidas, mesmo que em uma maneira limitada; eles
podem, realmente, ter crescido sem o perceber; eles, quase certamente,
aprenderam alguma coisa, nem que seja algum ritual obrigatório. Mas, para
muitos de nós, a concessão de graus muito cedo se tornou um fim em si mesmo.
É fácil esquecer que a
Maçonaria no século XVIII era um movimento radical, frequentemente
posicionando-se contra os abusos do poder de parte do establishment. O seu desenvolvimento e crescimento foram uma parte
vital da Era do Iluminismo. Ela foi, para muitos, uma rota para o conhecimento
que lhes era negado por um sistema religioso ou político opressivo.
Assim, depois de uma
recente palestra sobre educação na Maçonaria, quando eu perguntei ao
palestrante se seria possível incluir palestras sobre assuntos históricos ou
filosóficos como uma característica normal dos trabalhos de loja (tal como são
costumeiros em muitas lojas continentais [1]), a resposta foi que “isto não
serviria para a maioria – afinal, as pessoas usufruem a sua Maçonaria em muitos
níveis diferentes”, uma regra de Maçom de garfo e faca, se é que exista uma.
A boa notícia é que isso
não tem que ser assim. Como Collin Dyer indicou, o modo apropriado de instruir
nossos jovens maçons não é pela repetição das cerimônias de grau, mas pelos
vários sistemas de palestras maçônicas. No final do século XVIII e início do
século XIX, as Lojas de Instrução não ensinavam cerimônias de graus, pois
estavam muito mais engajadas em debates morais e filosóficos.
Os Maçons eram,
frequentemente, feitos fora da Loja, reunidos e levados para dentro do Templo
onde o seu real trabalho começava, na busca moral, intelectual e espiritual.
Cerimônias de grau, em contraste, são os únicos meios (apesar de enfeitados) de
fazer Maçons e adiantálos aos outros graus assim que tenham aprendido alguma
coisa. Graus de quê? Para atingir um grau mais elevado, certamente você tem,
antes, que estudar, aprender, ganhar proficiência.
Este é o princípio de uma
progressão acadêmica e o método progressivo empregado por qualquer instituto
merecedor do nome. Por que as exigências da Maçonaria deveriam ser menores? As
questões perfunctórias que nós exigimos, hoje em dia, dos nossos candidatos
para avanço são meramente os restos de um intricado sistema de palestras morais
que, no século XVIII, tinham que ser ministradas verbalmente (uma vez que nada
era escrito) e aprendido de cor antes que um candidato pudesse avançar para um
grau superior.
Hoje em dia, até mesmo um mínimo que tenha sobrado disso não se
constitui num teste real, de modo algum, uma vez que qualquer quantidade de
ajuda pelo Diácono, por seu lado, é permitida. [2] Comparo isso com as lojas
alemãs que eu visitei, onde, em cada reunião, o Mestre encarregava um de seus
irmãos mais novos de preparar e de realizar, na sessão seguinte, uma palestra
sobre um assunto filosófico à sua escolha e ficar preparado para responder
questões sobre ele. Ou a loja francesa que eu visitei, onde um candidato à
iniciação não foi aceito depois de meses de pesquisas sobre as suas atitudes
morais e filosóficas.
Quando eu escrevi este
texto pela primeira vez, eu tinha em mente as experiências de um ou dois de
nossos irmãos mais novos, cujos segundo e terceiro graus vieram bem depois de
suas iniciações. Eles se mostraram surpresos de que não se esperava deles um
avanço mais significativo no conhecimento maçônico e pareciam aborrecidos pela
falta de atividade. Em resumo: eles se sentiram abandonados. Eu tenho a nítida
impressão que eles tinham o direito de se sentirem assim.
Então, e daí? Qual é o
nosso avanço diário no conhecimento maçônico e como nós tratamos desse negócio
de autoconhecimento, crescimento interno? Ou são, todas elas, apenas palavras
vazias?
Notas
[1] – Lojas continentais –
referência às lojas europeias fora da Inglaterra. (N. T.)
[2] – Referência ao fato
de que o 1.º Diácono, muitas vezes, “assopra” partes do texto aos irmãos que
estão sendo submetidos ao questionário ou ao telhamento. (N. T.)
Texto originalmente publicado no site O Ponto Dentro do Círculo, e adaptado para o Blogue do GORN. Clique AQUI para ler o original.