Com um sistema posto para que
os indivíduos se sintam “confortáveis” ou, no mínimo, em uma potencial condição
de satisfazer as suas “necessidades” e, por conseguinte, sentir-se
“confortáveis” e “bem-atendidos”, uma vez que o consumo (pedra angular da
satisfação e do controle) está sempre ao alcance das mãos (aliás, nem é preciso
sair do lugar para entrar na roda de felicidade do consumo), torna-se
extremamente fácil manter a sociedade em ordem.
E como estamos falando de uma
sociedade de controle, não é preciso dizer que existe dura repressão para todos
os que fogem à ordem posta, os quais são vistos como “inadequados” ou como
prefere Huxley em sua obra – “selvagens”.
Todavia, como todo bom sistema que
evolui, a repressão não ocorre de modo explícito ou através de chicotes, e sim,
de maneira “invisível”, a partir da “liberdade” que gozamos, posto que a
repressão mais perfeita é aquela que não precisa acontecer, pois é introjetada
pelo próprio indivíduo em si mesmo.
Diante de tantas condições
favoráveis à escravidão e dissociadas, portanto, da liberdade, torna-se fácil
compreender o porquê da maior parte de nós preferir continuar na caverna e
tomar o ilusório como real.
Da mesma maneira que se compreende o motivo de
sermos agentes repressivos contra os que fogem do sistema, sejam os outros,
sejam nós mesmos. O que implica dizer que glorificamos a mentira e tomamos por
impostores os que se dedicam à verdade, afinal, como disse Orwell “quanto mais
a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam”.
Posto isso, há de se
considerar que ao aceitar o modo como a sociedade se organiza e todos os seus
ditames, automaticamente decidimos permanecer na caverna e contribuir para a
manutenção de um sistema de organização social que por trás de alegria, gozo e
satisfação, esconde exploração, desigualdade e ignorância.
Apesar de não haver
condições próprias para que haja um despertar do indivíduo da sua situação de
ignorância, como já exposto, é imperioso que se entenda que o modo hierárquico
da sociedade não se modificará de cima para baixo, de tal forma que é
necessário a cada indivíduo, dentro das suas oportunidades, tentar buscar
pontos de luz que o ajudem a encontrar a saída da sua ignorância e, por
conseguinte, da sua condição escrava.
Se o desconhecido magnetiza
pelo medo, é apenas o conhecimento e a liberdade que nos permitem enfrentá-lo,
sabendo que todo aquele que desperta sempre apontará para as correntes daqueles
que permanecem presos.
Todavia, também devemos ter em mente que muitos, por
mais oportunidades que recebam, irão preferir permanecer na sua ignorância, na
caverna, na Matrix ou qualquer palavra que representa o antônimo da liberdade,
pois o estado de espectador é sempre mais cômodo, já que, ainda que no filme
apresentado os exploradores sejam os protagonistas, sempre há pipoca e
refrigerante suficientes para manter os explorados de boca fechada.
Assim sendo, levantar do
cinema, ser um selvagem ou tomar a pílula vermelha, continuam sendo atos de
coragem, espalhados e diminutos, pois, como disse Nietzsche “por vezes as
pessoas não querem ouvir a verdade, porque não desejam que as suas ilusões
sejam destruídas”.
Entretanto, é necessário destruir as nossas belas e
confortáveis ilusões para que possamos ser sujeitos autônomos e livres, porque
é o medo que possuímos da verdade que provoca a força da ignorância e permite o
nosso controle.
Leia a primeira parte AQUI
Leia a primeira parte AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário